Biciculturando no Dia da Consciência Negra

Já faz um bom tempo que não escrevo por aqui. Mas o último final de semana em Floripa me fez ter vontade de colocar pra fora algumas palavras em forma de escrita novamente. Aí lembrei desse nosso antigo blog, dos primórdios de nosso ativismo em Curitiba. Em um mundo tão volátil e volúvel, voltar aqui parece coisa de alguém muito saudosista. Porém o motivo é bem mais profundo que mera nostalgia. Pois penso que se renegamos o passado nosso presente fica incompleto e o futuro fica órfão. Raízes são importantes e precisam ser nutridas, e não é porque tá todo mundo usando outras mídias que devemos fazer o mesmo. Pelo contrário, penso que demorou pra prestarmos atenção nos prejuízos que a falta de continuidade no uso de meios de comunicação mais livres e democráticos têm nos causado. Mas enfim, não vim aqui pra me aprofundar nesse assunto, e sim para falar sobre a cultura da bicicleta, esta que me ajuda a ver motivos para continuar presente na superfície desse planeta e me dá forças para enfrentar desafios e carregar cargas que nunca pensei conseguir na vida, como o riquixá do Desafio Intermodal de Curitiba…

fotas @by.doug

A bicicleta me trouxe muitas conquistas e dentre elas a convivência com pessoas que têm buscas muito parecidas com as minhas. O evento Bicicultura, que rolou em Floripa nesse último fim de semana, me lembrou disso e de muchas otras cositas más. Me lembrou de minha querida amiga Maria Cristina Hartmann, a Chica Los Vientos, que já não está mais entre nós, mas nos deixou um legado imenso de relatos e aprendizados sobre suas longas viagens de bicicleta quando o mundo era ainda mais hostil a mulheres que ousam viajar sozinhas. Nunca se intimidou com quem tentou desencorajá-la e hoje vemos cada vez mais mulheres seguindo seus sonhos e percebendo-se capazes disso e muito mais… 

Chica na Patagônia
Oficina Mulheres Cicloviajantes no Bicicultura 2023

Me lembrou que nossa luta muitas vezes parece inglória, mas que só o fato de conseguirmos nos reunir e celebrar mesmo em meio a tempos tão sombrios e difíceis, só isso já se configura em muita glória.

Me lembrou que não importa que a bicicleta possa ter sido inventada há mais de 2.500 anos, ela continua extremamente revolucionária em sua essência e capaz de transformar vidas pelo simples fato de coexistir em meio a uma população como a de Queimados, onde promove a transformação social com foco na geração de trabalho e renda, promoção da cidadania e redução da desigualdade. Tudo isso me lembrou principalmente que precisamos dar mais atenção às faltas presentes nesse pedalar com a gente. Numa data como a de hoje na qual escrevo esse texto, 20 de novembro, é mais do que pertinente trazer pra cá essa pergunta que vi muitas vezes sendo feita por lá: onde estão as pessoas pretas no seu pedal?

Por uma pedalar muito mais colorido, lúdico e consciente em nossas cidades! 🙏🙌✨